quinta-feira, 12 de abril de 2012

Verdade que eu passo - Rodinei Moura

Verdade: eu passo Tudo bem, ela é sua. Não a quero. Num mundo com
tanta diversidade, prefiro o respeito, a tolerância. Não a conivência
com a deliquencia, não o comodismo, não a covardia de tudo aceitar
pelo medo, mas o respeito por este instrumento imprescindí­vel ao
crescimento humano: a diversidade. Não me refiro ao crescimento vulgar,
ao crescimento puro e simples financeiro, embora eu louve e agradeça ao
dinheiro pelas benesses que pode oferecer a todos nós. Digno propulsor
do progresso material, que é parte do crescimento. Mas não é todo o
crescimento em si. Se você, bem sucedido Dono da Verdade, se chateou
com estas palavras bobas de um bobo aspirante a escritor, estão apenas
confirmando minha tese. Pois quem cresceu, tornou-se pleno, ou quem ainda
estão na busca incansável do infindivel crescimento da alma humana,
não se chateia, não discute e não perde tempo com um bobo aspirante a
alguma coisa. Nem mesmo ao crescimento intelectual puro e simples.
Aliás, talvez, não tão simples, já que, devido a minha ignorância,
eu nem mesmo saberia defini-lo. Intelectual? Talvez sinônimo de vaidade,
de leviandade, de ser tolo, talvez. Talvez sinônimo de ignorância, mas
não daquela a qual aspiro, mas da ignorância de já possuí­-la, de já
estar farto dela. De tê-la em demasia. Â Talvez, porque afirmá-lo seria
impor e impor é tentar diminuir quem nos lê, quem nos ouve,
pacientemente, generosamente. Melhor deixar no ar, para reflexão.
Troco, aliás, a verdade pelo nada saber, pela ignorância e volto um bom
troco. Ignorância que me permite começar do zero, sem ideias
preconcebidas e tudo analisar como um mero aprendiz. Que me permite olhar
para tudo sem duvidar de nada, mas também me permite não acreditar em
tudo. Que me permite a grande ousadia de lhe questionar, Senhor Dono da
verdade, embora ainda que com muito respeito o faça. Com o respeito dos
que nada sabem e por isto mesmo não temem ter sua opinião
desrespeitada, ignorada, por muitos sendo debochada. Mas que igualmente
ou com ainda mais ousadia me permite questionar-me e duvidar de minhas
próprias certezas, de minhas próprias escolhas. E que me dá a
liberdade de refazer estas escolhas. Ah, liberdade, palavra esta, que
neste contexto, mas não necessariamente em outro, é antônimo de
verdade. Verdade que eu passo, é sua, pode ficar. Verdade que alimenta
guerras, separa famí­lias, destrói amizades, que no mí­nimo magoa e
causa mal estar sem acrescentar nada. Que deixa o belo feio, o feio
horrí­vel, deixa o sábio esnobe e cego a respeito das grandezas que o
cerca. E que por isto mesmo o impede de saber mais, de saber de fato, de
saber o que realmente importa, o que o torna rico de tesouros que a
traça não corrói, que é saber amar.
    Rodinei Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário